José Louzeiro em uma cena do documentário “José Louzeiro: Depois da Luta”, que deve estrear em 2018 - Reprodução / ICURURUPU |
Fonte: Icururupu
RIO — Conforme antecipado pela coluna do Ancelmo Gois, o escritor e jornalista maranhense José Louzeiro, de 85 anos, faleceu na madrugada de ontem para hoje, no Rio de Janeiro. As causas da morte não foram especificadas, mas ele sofria com problemas de saúde há cinco anos, em função da diabete, informa o filho José Moreau.
Autor de mais de 50 livros, além de telenovelas e roteiros para o cinema, José Louzeiro iniciou no jornalismo cedo, aos 16 anos, na redação do jornal “O imparcial”. Nascido na periferia de São Luís do Maranhão em 1932, trabalhou em diversos veículos de comunicação, como nos já extintos “Manchete”, “Última Hora” e “Correio da Manhã”.
Radicado no Rio desde 1954, aprendeu a contar histórias trabalhando como jornalista policial — atividade que exerceu durante 20 anos. A experiência, aliás, foi importante para que ele se tornasse um dos pioneiros no país do romance-reportagem (gênero consagrado pelo americano Truman Capote com a obra “A sangue frio”) e uma fonte preciosa para diretores de cinema. Um exemplo é seu o livro “Lucio Flavio, o passageiro da agonia”, de 1976, sobre o famoso ladrão, mais tarde foi adaptado para o cinema com sucesso.
Outro romance-reportagem marcante foi “Aracelli, meu amor”, sobre o assassinato da menina Aracelli Crespo, aos 8 anos de idade, em Vitória, no ano de 1973. Ao esmiuçar o crime, Louzeiro chegou à conclusão que os culpados eram membros da alta sociedade da cidade. Por causa disso, o livro acabou proibido pela censura.
Não foi a única obra censurada do autor. Baseada na vida do ex-presidente Fernando Collor de Melo, sua telenovela “O marajá”, de 1993, foi proibida de ir ao ar. Louzeiro escreveu ainda as novelas “Corpo Santo” (1987) e “Guerra sem fim” (1993). É autor também dos infantojuvenis “A Gang do Beijo”, “Praça das Dores”, “A hora do morcego” e “Gugu Mania”.
—Talvez tenha sido ele que começou a moda do Novo Jornalismo por aqui, já que ele tinha uma verve de jornalismo e se interessava por fazer ficção — destaca o cineasta José Joffily, amigo do autor. — Acho que era por isso que ele exercia essa atração tão grande sobre os cineastas, que adaptavam seus livros. Encontrei ele há algumas semanas e não passava recibo da situação em que estava, nem se lamentava nesse destino.
Alguns dos principais filmes brasileiros dos anos 1980 foram inspirados em livros de Loureiro, como “Pixote, a lei do mais fraco” (1980) (baseado na obra “Infância dos mortos”), de Hector Babenco, e “O homem da capa preta” (1986), de Sergio Rezende.
— Louzeiro tinha um faro jornalístico sem igual! — diz a produtora Mariza Leão, que trabalhou com o autor no filme “O homem da capa preta”. — E uma paixão por tudo que fazia.
Dirigido por Maria Thereza Soares e com pesquisa de Bruna Castelo Branco, “José Louzeiro: Depois da Luta”, um curta-metragem documentário sobre a trajetória do jornalista e escritor, deve estrear nos cinemas em fevereiro de 2018.
— José Louzeiro tinha uma vontade infinita para escrever e contar histórias, muitas delas enfatizadas no cinema — diz Maria Thereza Soares. — Saiu da periferia de São Luís, munido de coragem e perseverança para encarar uma carreira sem nenhuma segurança, apenas o talento nato. Uma perda para a humanidade, mas um legado que convida à reflexão sobre o lado mais humanista, de uma visão muito empática sobre as pessoas à margem da sociedade”.
* Colaborou Alessandro Gianini
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